quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Somos todos avestruzes (e algumas conclusões)



Conclusões de fim-de-ano (porque resoluções de ano novo é coisa para fracos)

- Não acredito em eleições.
- Não acredito em copa do mundo.
- Não acredito em educação, do jeito que ela é, da forma como ela é feita.
- Não acredito em professores da rede pública que acham que ganham salários justos e tem preguiça de fazer greve.
- Não acredito em festivais de rock, ou indies. Felizes são as pessoas que frequentam as micaretas. Tanto faz quem toca, e por que toca.
- Não acredito na arte contemporânea, não acredito na Bienal.
- O Masp tá bonito por fora, com aquelas nuvens e tal, mas oco por dentro, por incompetência de lidar com o acervo que tem. Digo isso pois costumava estudar lá, mas não há qualquer indício de ensino por aquelas bandas.
- Acredito, sim, no teatro de pesquisa paulistano. Esperto, ágil e embasado.
- Acredito em alguns poucos professores (por enquanto, descobri alguns nas áreas de fotografia, história e urbanismo) que se mantem sãos e indicam autores incríveis.
- Acredito na Susan Sontag, quando ela fala que quando entendemos o quão ruim é mundo, fotografamos para guardar numa gaveta e esquecer.
- Acredito na existência de vida fora da Terra, e espero que eles venham logo.
- Acredito na vida a dois com ela, pois repartimos e criamos juntos.
- Acredito em compartilhar um ponto de vista, assistir série e comer temaki com o abajur vermelho ligado.

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Sobre a interminável descoberta de uma nova cidade dentro da cidade, vim parar no Tatuapé. Dar aula de fotografia (e aulas sobre o olhar) num lugar que olha mas não se vê, é um prazer quase sádico, de peripécias antropológicas que não passam no SP TV.

Tenho alunos que vieram do nordeste para a zona leste da cidade e nunca saíram daqui. Estudaram, casaram, tiveram filhos. Entendem que a Av. Salin Farah Maluf é a principal via da metrópole e o aeroporto de São Paulo fica em Guarulhos. Possuem dois pontos de lazer: um shopping que fica do lado do metrô e outro shopping que fica do outro lado do metrô. Ambos vivem lotados, assim como a linha vermelha que passa entre eles.

A região toda trava de manhã, fica lenta durante o dia todo e volta a travar no final da tarde.

O povo daqui sempre diz que um dia a cidade vai parar. O que eles não vêem é que a cidade já parou e continuamos engatinhando ao redor dela. Vez por outra colocam a cabeça pra dentro, avestruzes que somos.

Não estou dizendo que o centro seja um ótimo lugar. Mas ao menos no centro há uma sensação de não-lugar, de despertencimento - que dói, mas liberta. O bairrismo, filho bastardo do patriotismo preguiçoso, não mora no centro.